sábado, 7 de junho de 2014

Como vender um livro (ou Qualquer Outra Nova Ideia)

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Um amigo meu está prestes a lançar um livro e está à procura de novas ideias de marketing. Penso que isto o surpreendia: venda um!
Encontre uma pessoa em quem confie e venda-lhe uma cópia. Gostou do livro? Ficou entusiasmado com o livro? Entusiasmado ao ponto de passar a mensagem a dez amigos porque os pode ajudar a eles e não a si?
 As tribos crescem quando as pessoas recrutam outras pessoas. É desta forma que as ideias se propagam. Não o fazem por si, como é lógico. Fazem-no uns pelos outros. A liderança é a arte de conceder às pessoas uma plataforma para propagar ideias que funcionem. Se o livro do meu amigo Fred se propaga, terá, então, um óptimo início. Caso contrário, precisará de um novo livro.

Não podemos avançar para o Passo 2 se não completarmos o Passo 1.

Espere. Pare.

O Passo 1 desfaz quase tudo o que pensava saber sobre marketing. O Passo 1 diz: se não tem um livro capaz de galvanizar uma tribo, se não tem um produto se que irá propagar, se não tem um serviço capaz de gerar paixão entre um grupo de pessoas, deverá parar o que está a fazer e começar de novo.
Acima de tudo, este tipo de pensamento muda o foco de interesse do marketing.
O marketing está relacionado com a liderança, com a liderança de uma tribo, com a montagem, a ligação e a interacção com um grupo de pessoas numa determinada missão. O marketing é criar um movimento. Claro, poderá ver esse movimento ao vivo numa loja da Apple. Mas também o poderá ver nas eleições presidenciais e nos pedidos emocionados dos utilizadores do Basecamp à procura de um novo item ou no caminho de se tornarem, eles próprios, mercados emergentes.
As novas ferramentas das redes sociais não funcionam se apenas gastar dinheiro nelas; funcionam quando inspiram paixão nas pessoas (pessoas reais). E essa paixão é gerada por grandes produtos e uma liderança visionária.
Uma longa e estranha viagem
Há quarenta anos atrás, Jerry Garcia e os The Grateful Dead tomaram algumas decisões que mudaram o sector da música para sempre. Pode até não pertencer ao sector da música e pode nunca ter assistido a um concerto dos Dead, mas o impacto que os Dead tiveram afectou quase todos os sectores, incluindo o seu.
Para além de ganharem centenas de milhões de dólares durante as suas carreiras, os Dead ajudaram-nos a perceber a forma como as tribos funcionam. Não foram bem sucedidos na venda de discos (apenas conseguiram um álbum do top 40). Em vez disso, foram bem sucedidos em recrutar e liderar uma tribo.
Os seres humanos não conseguem resistir. Precisam de pertencer a algo. Um dos mais poderosos e bem sucedidos mecanismos de defesa de que dispomos é fazer parte de uma parte, é contribuir (e obter proveito) para um grupo de pessoas que pensam de forma semelhante. Sentimo-nos atraídos pelos lideres e pelas suas ideias e não conseguimos resistir o impulso de pertencer ou a emoção da novidade.
Se um fanático dos Grateful Dead diz a outro "2-14-70", fala num código quase secreto. Os sorrisos e abraços e apertos de mão definem quem eles são... pertencer a uma tribo é uma parte importante de como nos vemos.
Ao que parece, queremos pertencer não apenas a uma tribo, mas sim a muitas. E nos derem as ferramentas e se facilitarem essa integração, continuaremos a juntar-nos a várias tribos.
As tribos tornam as nossas vidas melhores e liderar uma tribo é a melhor vida de todas.
O difícil tornou-se fácil
... e vice-versa.
Antigamente, era muito difícil lavrar um campo, extremamente difícil de encontrar o aço necessário para construir um carro e muito difícil fazer uma encomenda chegar de Nova Iorque a Cleveland, de forma atempada e a um preço razoável.
Costumava ser muito difícil fundar uma nova empresa e ainda mais difícil arranjar um nicho no mercado, de forma a convencer os consumidores a encontrarem os nossos produtos. Costumava ser muito difícil gerir uma fábrica.
Essas coisas agora são fáceis. Poderão ser mais dispendiosas do que aquilo que gostaríamos, mas poderá pô-las numa lista de coisas a fazer e, efectivamente, fazê-las.
Aquilo que agora é difícil é quebrar as regras. Aquilo que é difícil é encontrar a fé para sermos hereges, procurar uma inovação e depois, quando confrontados com muita resistência, liderar uma equipa e impor essa inovação ao mundo.
As pessoas bem sucedidas são aquelas que são boas a conseguir isto.
Quando a Los Angeles Philharmonic, uma das orquestras mais prestigiadas no mundo, andava à procura de um novo maestro, tinham hipótese de escolher de entre mais de mil individuais qualificados. Tratava-se de indivíduos com experiência comprovada, experiente e internacionalmente reconhecidos na condução de orquestras de forma tradicional.
Acabaram por contratar Gustavo Dudamel.
É um prodígio com 26 anos, oriundo da Venezuela, com um currículo que em nada poderá ser comparado com os dos seus concorrentes mais velhos. Não tem a experiência comprovada no desempenho de trabalhos passados. A Los Angeles Philharmonic percebeu que, no entanto, poderiam sempre encontrar alguém para fazer esse tipo de trabalho. Aquilo de que precisavam era de um líder para ajudar a organização a alcançar novos públicos de uma forma inovadora.
Pare um segundo e pense nas implicações desta decisão. De entre um milhar de maestros qualificados (que compreendiam o status quo), a orquestra escolheu um novato que procurava desafiar o status quo.
Os hereges alcançam este tipo de sucesso de uma forma regular.
Aquilo que agora é difícil é quebrar as regras.
As pessoas bem sucedidas são aquelas que são boas a conseguir isto.
Por que não você, por que não agora?
As barreiras de liderança já caíram. Existem tribos em toda a parte e muitas procuram líderes. Isto cria um dilema: sem impedimentos, por que não começar?
Um exemplo simples: há dez anos atrás, se quisesse publicar um livro, precisaria de arranjar uma editora que aceitasse a sua ideia. Sem editora, não haveria livro.
Hoje, como é lógico, pode publicar um livro completamente sozinho. Basta visitar o site lulu.com e está feito. Sem que ninguém tenha que concordar, a única coisa que resta são autores ainda sem publicações que apenas não querem publicar.
A liderança agora é assim. Ninguém nos dá permissão ou aprovação ou uma licença para liderar. Só tem o fazer. A única pessoa capaz de dizer que não é você.
Continuemos por mais um pouco, portanto, e pensemos sobre o quando. Tem o que é preciso para liderar? Precisa de mais poder, habilitações ou dinheiro? Quando é que terá aquilo que precisa para começar a liderar uma tribo?
Se alguém lhe desse duas semana para fazer aquele discurso ou para escrever aquele manifesto ou para tomar aquela decisão, seria tempo suficiente? Se duas semanas não são tempo suficiente, precisa de quatro, doze ou mil?
Diz-me a minha experiência que os líderes não precisam de esperar. Não existe uma correlação entre dinheiro, poder ou habilitações literárias e liderança bem sucedida. Nenhuma. O John McCain foi o quinto melhor aluno da sua turma (a contar de baixo) na Academia da Marinha. Howard Schultz costumava vender aparelhos para a cozinha e acabou à frente de uma cadeia de três lojas, dedicada à venda de café em grão, com pouco investimento disponível, antes de a transformar na Starbucks. Ghandi não tinha, aparentemente, nenhum poder como um advogado indiano que vivia na África do Sul durante o apartheid. Esperar não compensa. Dizer que sim compensa.
Isto é inquietante.
Pensava que ia ler um pequeno artigo sobre marketing. Poderia, talvez, estar repleta de dicas sobre como fazer montes de amigos no Facebook ou quais as melhores palavras a utilizar num email para contornar os filtros de spam. Talvez estivesse à espera de manobras que pudessem esticar o seu orçamento para marketing, porque mesmo que o seu produto não seja grande coisa e mesmo que o seu chefe seja um pouco chato, tem um trabalho a fazer. No entanto, estou-lhe a falar sobre liderança e mediocridade e ligações e tribos. É tudo tão aéreo. Tão vaga. Muita arte e pouca ciência.
Mas não é.
Aquilo a que assistimos, vez sem conta, é que a liderança corajosa, mas barata, que cria movimentos apaixonados consegue sempre (sempre!) derrotar as técnicas hierárquicas, medíocres, lentas e extremamente dispendiosas a que nos habituamos.
Faça as contas.

Fonte: http://www.portal-gestao.com/item/2549-como-vender-um-livro-ou-qualquer-outra-nova-ideia.html


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