Um amigo meu está prestes a lançar um livro e está à procura
de novas ideias de marketing. Penso que isto o surpreendia: venda um!
Encontre uma pessoa em quem confie e venda-lhe uma cópia.
Gostou do livro? Ficou entusiasmado com o livro? Entusiasmado ao ponto de
passar a mensagem a dez amigos porque os pode ajudar a eles e não a si?
As tribos crescem quando as pessoas recrutam outras
pessoas. É desta forma que as ideias se propagam. Não o fazem por si, como é
lógico. Fazem-no uns pelos outros. A liderança é a arte de conceder às pessoas
uma plataforma para propagar ideias que funcionem. Se o livro do meu amigo Fred
se propaga, terá, então, um óptimo início. Caso contrário, precisará de um novo
livro.
Não podemos avançar para o Passo 2 se não completarmos o
Passo 1.
Espere. Pare.
O Passo 1 desfaz quase tudo o que pensava saber sobre marketing. O Passo 1 diz: se não tem um livro capaz de galvanizar uma tribo, se não tem um produto se que irá propagar, se não tem um serviço capaz de gerar paixão entre um grupo de pessoas, deverá parar o que está a fazer e começar de novo.
Acima de tudo, este tipo de pensamento muda o foco de
interesse do marketing.
O marketing está relacionado com a liderança, com a liderança
de uma tribo, com a montagem, a ligação e a interacção com um grupo de pessoas
numa determinada missão. O marketing é criar um movimento. Claro, poderá ver
esse movimento ao vivo numa loja da Apple. Mas também o poderá ver nas eleições
presidenciais e nos pedidos emocionados dos utilizadores do Basecamp à procura
de um novo item ou no caminho de se tornarem, eles próprios, mercados
emergentes.
As novas ferramentas das redes sociais não funcionam se
apenas gastar dinheiro nelas; funcionam quando inspiram paixão nas pessoas
(pessoas reais). E essa paixão é gerada por grandes produtos e uma liderança
visionária.
Uma longa e estranha viagem
Há quarenta anos atrás, Jerry Garcia e os The Grateful Dead
tomaram algumas decisões que mudaram o sector da música para sempre. Pode até
não pertencer ao sector da música e pode nunca ter assistido a um concerto dos
Dead, mas o impacto que os Dead tiveram afectou quase todos os sectores,
incluindo o seu.
Para além de ganharem centenas de milhões de dólares durante
as suas carreiras, os Dead ajudaram-nos a perceber a forma como as tribos
funcionam. Não foram bem sucedidos na venda de discos (apenas conseguiram um álbum
do top 40). Em vez disso, foram bem sucedidos em recrutar e liderar uma tribo.
Os seres humanos não conseguem resistir. Precisam de
pertencer a algo. Um dos mais poderosos e bem sucedidos mecanismos de defesa de
que dispomos é fazer parte de uma parte, é contribuir (e obter proveito) para
um grupo de pessoas que pensam de forma semelhante. Sentimo-nos atraídos pelos
lideres e pelas suas ideias e não conseguimos resistir o impulso de pertencer
ou a emoção da novidade.
Se um fanático dos Grateful Dead diz a outro
"2-14-70", fala num código quase secreto. Os sorrisos e abraços e
apertos de mão definem quem eles são... pertencer a uma tribo é uma parte
importante de como nos vemos.
Ao que parece, queremos pertencer não apenas a uma tribo, mas
sim a muitas. E nos derem as ferramentas e se facilitarem essa integração,
continuaremos a juntar-nos a várias tribos.
As tribos tornam as nossas vidas melhores e liderar uma tribo
é a melhor vida de todas.
O difícil tornou-se fácil
... e vice-versa.
Antigamente, era muito difícil lavrar um campo, extremamente
difícil de encontrar o aço necessário para construir um carro e muito difícil
fazer uma encomenda chegar de Nova Iorque a Cleveland, de forma atempada e a um
preço razoável.
Costumava ser muito difícil fundar uma nova empresa e ainda
mais difícil arranjar um nicho no mercado, de forma a convencer os consumidores
a encontrarem os nossos produtos. Costumava ser muito difícil gerir uma
fábrica.
Essas coisas agora são fáceis. Poderão ser mais dispendiosas
do que aquilo que gostaríamos, mas poderá pô-las numa lista de coisas a fazer
e, efectivamente, fazê-las.
Aquilo que agora é difícil é quebrar as regras. Aquilo que é
difícil é encontrar a fé para sermos hereges, procurar uma inovação e depois,
quando confrontados com muita resistência, liderar uma equipa e impor essa
inovação ao mundo.
As pessoas bem sucedidas são aquelas que são boas a conseguir
isto.
Quando a Los Angeles Philharmonic, uma das orquestras mais
prestigiadas no mundo, andava à procura de um novo maestro, tinham hipótese de
escolher de entre mais de mil individuais qualificados. Tratava-se de
indivíduos com experiência comprovada, experiente e internacionalmente
reconhecidos na condução de orquestras de forma tradicional.
Acabaram por contratar Gustavo Dudamel.
É um prodígio com 26 anos, oriundo da Venezuela, com um
currículo que em nada poderá ser comparado com os dos seus concorrentes mais
velhos. Não tem a experiência comprovada no desempenho de trabalhos passados. A
Los Angeles Philharmonic percebeu que, no entanto, poderiam sempre encontrar
alguém para fazer esse tipo de trabalho. Aquilo de que precisavam era de um
líder para ajudar a organização a alcançar novos públicos de uma forma
inovadora.
Pare um segundo e pense nas implicações desta decisão. De
entre um milhar de maestros qualificados (que compreendiam o status quo), a
orquestra escolheu um novato que procurava desafiar o status quo.
Os hereges alcançam este tipo de sucesso de uma forma
regular.
Aquilo que agora é difícil é quebrar as regras.
As pessoas bem sucedidas são aquelas que são boas a conseguir
isto.
Por que não você, por que não agora?
As barreiras de liderança já caíram. Existem tribos em toda a
parte e muitas procuram líderes. Isto cria um dilema: sem impedimentos, por que
não começar?
Um exemplo simples: há dez anos atrás, se quisesse publicar
um livro, precisaria de arranjar uma editora que aceitasse a sua ideia. Sem
editora, não haveria livro.
Hoje, como é lógico, pode publicar um livro completamente
sozinho. Basta visitar o site lulu.com e está feito. Sem que ninguém tenha que
concordar, a única coisa que resta são autores ainda sem publicações que apenas
não querem publicar.
A liderança agora é assim. Ninguém nos dá permissão ou
aprovação ou uma licença para liderar. Só tem o fazer. A única pessoa capaz de
dizer que não é você.
Continuemos por mais um pouco, portanto, e pensemos sobre o
quando. Tem o que é preciso para liderar? Precisa de mais poder, habilitações
ou dinheiro? Quando é que terá aquilo que precisa para começar a liderar uma
tribo?
Se alguém lhe desse duas semana para fazer aquele discurso ou
para escrever aquele manifesto ou para tomar aquela decisão, seria tempo
suficiente? Se duas semanas não são tempo suficiente, precisa de quatro, doze
ou mil?
Diz-me a minha experiência que os líderes não precisam de
esperar. Não existe uma correlação entre dinheiro, poder ou habilitações
literárias e liderança bem sucedida. Nenhuma. O John McCain foi o quinto melhor
aluno da sua turma (a contar de baixo) na Academia da Marinha. Howard Schultz
costumava vender aparelhos para a cozinha e acabou à frente de uma cadeia de
três lojas, dedicada à venda de café em grão, com pouco investimento
disponível, antes de a transformar na Starbucks. Ghandi não tinha,
aparentemente, nenhum poder como um advogado indiano que vivia na África do Sul
durante o apartheid. Esperar não compensa. Dizer que sim compensa.
Isto é inquietante.
Pensava que ia ler um pequeno artigo sobre marketing.
Poderia, talvez, estar repleta de dicas sobre como fazer montes de amigos no
Facebook ou quais as melhores palavras a utilizar num email para contornar os
filtros de spam. Talvez estivesse à espera de manobras que pudessem esticar o
seu orçamento para marketing, porque mesmo que o seu produto não seja grande
coisa e mesmo que o seu chefe seja um pouco chato, tem um trabalho a fazer. No
entanto, estou-lhe a falar sobre liderança e mediocridade e ligações e tribos.
É tudo tão aéreo. Tão vaga. Muita arte e pouca ciência.
Mas não é.
Aquilo a que assistimos, vez sem conta, é que a liderança
corajosa, mas barata, que cria movimentos apaixonados consegue sempre (sempre!)
derrotar as técnicas hierárquicas, medíocres, lentas e extremamente
dispendiosas a que nos habituamos.
Faça as contas.
Fonte: http://www.portal-gestao.com/item/2549-como-vender-um-livro-ou-qualquer-outra-nova-ideia.html
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